sábado, 1 de agosto de 2009

É correto dizer que a aversão ao outro faz parte dos seres humanos.

A não aceitação do diferente, psicologicamente, significa a coisificação do ser, ver uma pessoa como coisa, a relação eu-tu dá lugar a relação eu-isso. considerando que a luz da antropologia nos trouxe “o olhar sobre o outro”, o entendimento cientifico nos esclarece que não existem pensamentos, cultura, ou pessoas superiores, apenas diversidade de costumes,. É visível que o preconceito com relação ao uso da cannabis não está restrito a substancia em sim, mas a uma visão estigmatizada de uma cultura inferior. A questão é considerada como uma coisa a parte e não como parte integrante dos costumes de nossa sociedade, o que é falso, pois as raízes do consumo da erva estão firmadas na nossa história.

Diante de um mundo de regras que impõem padrões a serem seguidos sob pena, o homem se torna um ser inaltêntico. A culpa está na moral e ética definidas em tempo e espaço restritos a cada construção social. As leis refletem valores aceitos em determinado período histórico para proteger a sociedade dela mesma. A missão das leis é proteger as pessoas num todo, nossa sociedade parece esta bem protegida do consumo de cannabis e totalmente fragilizada diante do uso de drogas mais nocivas como nicotina, álcool e outras (como é comprovado cientificamente). Estamos num período histórico onde é aceitável embriagar-se com álcool até a morte (em excesso causa overdose) e é um crime hediondo o uso de uma erva considerada de propriedades medicinais.

Primitivamente nossos ancestrais encontraram nos psicotrópicos uma forma de abstração, o consumo de psicoativos é tão antigo quanto a religião. O conflito do nascimento e o desafio da vida nos leva à angustia, aprisionadas na subjetividade as pessoas vêem no lúdico uma válvula de escape, é no lazer, no brinquedo que nos atualizamos a vida, amenizamos as dores da existência, fumar maconha não é uma coisa em si, é uma construção sociocultural baseada em relações que as pessoas vivenciam como troca de saberes e identidade, diversão, reflexão das problemáticas da vida em comum. É incoerente afirmar que existe lazer certo e lazer errado, o que existem são formas diferentes de escapar, abstrair, formas diferentes de brincar, diversidade de tipos de lazer.

Pessoas que fumam maconha não oferecem nenhum risco a sociedade, para elas é construído um mundo cada vez falso onde não cabem senão como repetidores de uma moral que lhes é estranha e o medo, o medo existe, medo de ser confundido com um bandido, medo de ser marginalizado, medo de ser preso, medo de ser descriminado.


Flávio Felipe
Graduando de Ciências Sociais

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